Um certo Arthur, lá de Quintino

Arthur é um garoto qualquer que estava por ali, nas ruas do bairro de Quintino Bocaiuva, zona norte do Rio de Janeiro.

Parece brincadeira,mas esse Arthur era goleiro. E dos bons, quase se tornou profissional sendo goleiro. O garoto, filho de imigrantes portugueses, de família grande – era o mais novo de seis filhos, logo já recebera o termo ‘inho’ quando o chamavam – foi gostando, amando a bola.
De ‘Arturzinho’ foi para ‘Arturzico’ e depois para Zico. Sugestão de uma prima. Mas o apelido antes ficara entre os familiares, ele não o levou logo de cara para a Gávea. Lá, ele ainda era o Arthur.

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O sonho de Arthur era jogar no Flamengo. O nome é forte, de sílaba final forte. Fla-Men-GO. Fla-Men-GOL. Que quase virou GOLeiro, mas que depois, virou artilheiro. Camisa 10, organizador.

Mas não deixou seu lado simples. Foi assim, de jeito simples, sendo um garoto que conquistou a torcida mais apaixonante do País.

Foi ídolo do time que quis, do time que sonhou jogar. Recebeu a 10. A 10 que o colocava em um patamar de maestria, de quem ainda distribuíra canetas – e ainda por cima, evitava gols – nas ruas da Zona Norte do Rio.

Quando colocava a 10,  ele não era mais Arthur. Voltava a ser o Zico. Aquele garoto franzino filho de imigrantes portugueses, mas que de português, só tinha apenas o nome. Nas pernas,um talento inegável.

Cresceu e se tornou imenso em um momento em que todos os clubes mantinham seus craques. Era tempo de Dadá (e depois, Reinaldo) no Galo, Sócrates no Corinthians, Falcão no Internacional, Ademir da Guia no Palmeiras, Roberto Dinamite no Vasco…A lista é longa.

Também se aproveitou de um tempo em que o Brasil parecia que estava carente de ídolos no futebol nacional. O final da era de Rivellino, de Pelé…

Ficou com a (injusta) alcunha de amarelão em Copas do Mundo. Oras, azar da Copa do Mundo que não premiou Zico com um título mundial. A taça FIFA se tivesse sentimentos,choraria por não receber o carinho de Zico, Sócrates, Falcão, entre tantos outros.

Mas voltando ao garoto, que se tornara ’10’, que se tornara ídolo (não apenas na Gávea; em Udine, ele era um ‘motor Ferrari em um Fusca’, tamanho o respeito que os outros tinham com ele, em uma era cujos times europeus só poderiam contratar três estrangeiros por equipe), Zico se tornou ídolo por conta de sua simplicidade.

Até o vascaíno, que tanto o sofreu com teus pés nos clássicos com mais de 100 mil no Maracanã, o reverenciam, mesmo que de forma mais silenciosa.

Entendem a força de um ídolo,de um ícone. O Zico dos anos 80 tem um patamar de carisma parecido com o do goleiro Marcos, aposentado no início desta década.

São iguais, se você notar: Simples,bem-humorados, com boas histórias, e são modestos. Bem modestos. São ídolos daqueles que todo mundo gosta.

Zico em campo era um modelo de jogador que, no final da história, todos admiravam. Não há o que esconder.

É aquele jogador que, sempre no SEU JOGO – o único, por sinal, que lota o atual Maracanã MESMO – o torcedor espera aquele gol dele, nem que seja de um pênalti tramado.

Isso não importa. É gol de Zico. É gol de quem fez e continua fazendo a magia do futebol existir.

Parabéns, ô de Quintino. Parabéns, Zico.

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